Um cara em modo zumbi resolveu atravessar a avenida sem nem olhar para os lados. O cobrador do ônibus, puxou então assunto comigo. Lembro bem dele, quando, há mais de um ano atrás, começou a conversar sobre Direito com um passageiro e achei um desperdício de potencial. Após a freada brusca, ele começou a contar que sempre fica a pelo menos meio metro para dentro da calçada, para que nenhum carro suba o meio-fio e o pegue. E que, no semáforo, ele sempre espera 30 segundos para antes de atravessar a rua.
– EU AMO MUITO A MINHA VIDA! – disse ele. – Quero viver mais de cem anos! Ainda tenho muitos sonhos a realizar. Porque a vida é maravilhosa, não é mesmo? E se a gente não tem sonhos, não vale a pena viver. Os sonhos é que movimentam nossa vida.
Depois falou de quando tinha 23 anos e morava na Marques de Abrantes. Um amigo lhe convidou para uma festa de aniversário em casa e lhe ofereceu maconha.
– E se eu tivesse aceitado? Será que eu estaria aqui hoje?
E continuou contando que falava com seu filho único para não se envolver com nada disso. Um rapaz de 26 anos, que estuda Engenharia Elétrica na Universidade Veiga de Almeida.
– Ele gosta muito de lá e diz que os professores são muito exigentes. Mas chegou a chorar quando teve que se transferir para lá depois que a Gama Filho fechou. Já era para ele estar no 6º período, mas acabou se atrasando com isso.
E já é a segunda faculdade dele, que havia feito Faetec e seguiu na graduação de Análise de Sistemas, quando resolveu desistir já no último ano.
– E ele trabalha? – perguntei.
– Não, não trabalha não.
– E o senhor é que paga a faculdade dele?
– Não, não. Aconteceu uma história maravilhosa… preciso te contar. Onde você vai saltar?
– Já no próximo ponto.
– Poxa! Não vai dar tempo. Mas quando nos vermos de novo, eu te conto o final dessa história.
Seu Graciano, cobrador do 474, carequinha simpático com cerca de 50 anos. Um sonhador.