Atenção, senhores usuários!

Escada rolante vazia e iluminada

Oito e meia da manhã. O trem do metrô chegou à estação da Carioca e as portas do vagão se abriram. Em dois segundos foi possível ver uma cena comparável ao gado quando a porteira se abre. Me direcionei até a escada rolante, tentando me acomodar naquele aperto. Sem pressa. Ainda meio sonolenta, estacionei em um dos degraus, aguardando a chegada ao topo. Dois degraus à frente estava um casal. Um rapaz passou por mim e, em seguida, pediu licença ao casal. Eles se entreolharam e se espremeram para o rapaz passar. Tão logo deram passagem, largaram um tradicional “está com pressa, vai pela escada”. Diariamente vejo situações como esta. Algumas vezes até participo. Mas evito me colocar como protagonista.

Certa vez descia o segundo dos três lances de escadas rolantes da Cardeal Arco Verde, quando me deparei com duas senhoras emparelhadas nos degraus. Para quem não conhece, é uma das estações mais profundas do Rio. Se tivesse dois metros a mais de profundidade, estaríamos no centro da Terra. Além das escadas, temos que percorrer duas esteiras rolantes para atravessar os longos corredores. O tempo para chegar à plataforma de embarque é tão alto, que se iguala ao do percurso do ônibus até o Centro.

Neste dia não estava com pressa. Apenas não gosto de ver a vida passar em tão baixa velocidade. Educadamente, pedi licença às duas senhoras. Elas não emitiram nenhum comentário. Entretanto me olharam com expressão de reprovação e giraram os ombros em apenas dois graus, oferecendo um milimétrico espaço para minha passagem. Preferi ficar em silêncio. Contudo atravessei o pequeno vão como se meu corpo fosse dez vezes maior. Nada educado, realmente.

Mas não é revoltante que você esteja agindo de acordo com as regras e lhe julguem da forma contrária?

Poderia ter respondido àquelas caras feias ou simplesmente apontado para os adesivos nas escadas, que indicam que os usuários devem parar somente à direita.

Sim, existe uma sinalização que orienta sobre a conduta correta nas escadas rolantes. Foi o que o Metrô Rio me respondeu pelo Twitter, quando sugeri uma campanha para que o lado esquerdo das escadas não ficasse bloqueado. É verdade! Há adesivos na parte inferior das laterais das escadas. Em tamanho pequeno e em local de difícil visualização. Em algumas estações, a informação está mais visível, disposta verticalmente na entrada das escadas. Porém os pictogramas causam confusão. Um orienta para manter-se à direita, enquanto o outro indica que o número máximo de pessoas por degrau é dois. No site da companhia de transporte, não há qualquer seção referente a regras de convivência no metrô e os avisos sonoros nas estações se restringem a instruções sobre o comportamento nas plataformas e nos vagões.

Em outras cidades, o desrespeito à regra ocorre do mesmo modo. Em São Paulo, onde algumas estações chegam a ter cinco lances de escadas rolantes e nem sempre há escadas convencionais, os avisos textuais em faixas amarelas gritantes não são suficientes para evitar os conflitos. Em Nova Iorque também são registradas confusões em algumas estações. Verdadeiras lutas contra a multidão se iniciam quando passageiros que desejam pegar o trem que está na plataforma encontram a passagem bloqueada.

Já em Londres e Paris, a orientação, em geral, é respeitada. Seus cidadãos foram educados dessa forma. Mas não significa que londrinos e parisienses apresentem um comportamento exemplar. Os maratonistas das escadas se mostram rudes e até imprudentes, sem se responsabilizar pelos que não saem do caminho. Se um desavisado para à esquerda, no mínimo é atropelado, sem direito a reclamação.

Em todas essas cidades a discussão sobre a legitimidade da regra se polariza. De um lado, os que acreditam que caminhar pelas escadas rolantes pode economizar valiosos minutos. Os que solicitam que a companhia metroviária disponha de pessoal para fazer cumprir a norma. E até os que argumentam que o fluxo na escada rolante deve seguir a orientação para circulação de pedestres nas calçadas, ou seja, a lógica das ultrapassagens dos carros. A verdade é que o código de trânsito brasileiro não fornece qualquer instrução quanto ao trânsito de pessoas.

Em contraposição, estão os adeptos do “está com pressa, vai pela escada”. Essa justificativa isolada não passa de uma grosseria gratuita, já que caminhar pela escada rolante é mais rápido do que pela convencional. Mas alguns argumentos mais fundamentados apontam para documentos de órgãos dos Estados Unidos com a definição do que é escada rolante e de que a altura dos seus degraus não é adequada para a caminhada.

Concordando ou não, é necessário algum tipo de organização. É preciso evitar o empurra-empurra, os confrontos agressivos e os acidentes pelos degraus. O trânsito de pessoas deve fluir. Deseja apreciar a paisagem durante a viagem escada a cima, mantenha-se parado à direita. Uma simples atitude que facilita a circulação. Não cabe julgar a pressa alheia. Todos temos pressa em algum momento e por algum motivo. A tranquilidade e o passeio de um não devem atrapalhar a urgência do outro. Por que continuar agindo de forma não coletiva? Mais que uma questão de ordem, é uma questão de cortesia. De gentileza. De cidadania.

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