Namoro Fake: um serviço inusitado oferecido pela internet. Contratar alguém para simular um relacionamento através de curtidas e comentários no Facebook. Há vários pacotes: namorado, ficante ou simples paquera. Os namorados contratados são pessoas reais, que ganham 50% do valor pago ao site e os comentários são redigidos por quem os contrata.
Nem todos utilizam o serviço para fingir que estão namorando. Alguns contratam três ou quatro ficantes para receber elogios e cantadas e, assim, atrair a atenção dos demais usuários. Outros contratam apenas paqueras para causar ciúmes no companheiro.
O criador do site resume a motivação dos usuários à carência virtual, solidão e insegurança. Mas não se trata exatamente disso. Não estamos falando da vontade dos solitários de ter alguém a seu lado. Como o próprio dono da empresa declarou, o status namorando deixa a pessoa por cima. Então estamos falando da necessidade de mostrar à sociedade que estão cumprindo o papel convencionado como normal e de sucesso: namorar, casar, ter filhos.
Este serviço é diferente do Amigos de Aluguel, criado há alguns anos, onde os clientes buscavam companhia para ir ao cinema, ao teatro ou somente para uma conversa. Neste caso, sim, podemos falar em solidão ou carência.
O usuário do Namoro Fake é, na verdade, uma versão virtual de um perfil específico de cliente do Amigos de Aluguel. Aquele que buscava alguém para acompanhá-lo em uma ocasião social ou de trabalho. É a tradicional situação em que um rapaz convida uma amiga para acompanhá-lo em um casamento, pois não quer aparecer sozinho. Ninguém quer parecer sozinho.
O sucesso do Namoro Fake representa o quanto as pessoas estão dispostas a mostrar que estão desempenhando o que a sociedade espera.
Que transformações alcançaríamos se seus usuários, ao invés de alimentarem essas cobranças sociais, investissem o mesmo esforço em mudar a mentalidade e os padrões estabelecidos por essa sociedade que tanto lhes pressiona?
Deixando este aspecto de lado, toda essa discussão nos leva a perceber o quanto uma representação online da vida pode estar descolada da realidade. Muito se falou sobre o perfil de quem adquire esses tipos de serviço. No entanto, não se comentou sobre a crença ingênua e quase cega dos espectatores em tudo o que aparece em suas timelines.
Você pode postar no Twitter que está no Arpoador vendo o melhor pôr-do-sol, quando na verdade está em casa. Pode escrever no LinkedIn que está assistindo um excelente seminário, quando de fato está entediado no whatsapp, rezando para que o palestrante termine. Pode entrar às duas da manhã do Facebook para comunicar que teve uma noite espetacular no dia dos namorados, enquanto, se isso fosse mesmo verdade, estaria a quilômetros de distância da internet. Pode postar no Instagram uma foto romântica na Torre Eiffel, acompanhada das hashtags #love e #paris, quando, na realidade, esteve apenas por cinco corridos minutos no local, em meio a uma DR com a namorada.
Soa um pouco exagerado, mas é o que temos vivido. Recentemente saí de casa para fotografar a orla, deixei meu longboard encostado em uma árvore, enquanto tentava enquadrar a paisagem. Depois de ter passado duas vezes por mim, um rapaz de uns 35 anos me abordou e perguntou se poderia subir em cima do meu skate para que eu tirasse uma foto.
Foi um pedido um tanto esquisito. Uma necessidade de parecer cool, in ou qualquer outro adjetivo que resulte em curtidas, já que, do outro lado, os espectadores continuam levando a sério a felicidade simulada e estampada nas redes sociais. Esquecem que timelines não são uma representação integral da vida.
George
28 ago 2014Ótimo texto, reflete bem a capacidade de algumas pessoas de querer aparecer. Não faz sentido inventar um relacionamento apenas para ganhar mais curtidas ou seguidores.
O namoro fake não reflete um comportamento ”correto”. Seria tão mais fácil se as pessoas parassem para perceber que o certo mesmo é ser feliz independente do status de relacionamento.