Por que grandes empresas estão investindo em mobilidade corporativa?

Mulher de salto alto andando no asfalto
Foto de Gratisography no Pexels

Meu primeiro emprego foi em uma região industrial do Rio de Janeiro. Na época, precisava pegar dois ônibus da Ilha do Governador até Jacarepaguá e, em seguida, aguardar uma van disponibilizada pela empresa. O veículo levava cinco minutos até a portaria da fábrica. A questão é que os intervalos entre as viagens eram de meia hora e a confiabilidade do serviço era baixa. Eu nunca tinha certeza se a van iria aparecer. Então seguia numa caminhada de 15 minutos. Percorria um campo de futebol e mais um longo terreno baldio, usando salto e calça social em uma rua sem qualquer calçamento, com direito a uma família de porquinhos passando. Imagine a cena?! Quando chovia o trajeto ficava repleto de lama e ganhar carona dos colegas era algo raro.

Dificuldades como estas deram origem ao Plano de Mobilidade Sustentável Corporativa que está sendo desenvolvido atualmente pelo Labmob da UFRJ para a BR Distribuidora: falta de calçadas, de estrutura cicloviária e de iluminação no entorno de uma das fábricas, além de desigualdades entre os deslocamentos de profissionais próprios e terceirizados.

A ideia deste plano nasceu no final de 2017, em um workshop de intraempreendedorismo do qual participei. Era a oportunidade de propor algo que gostaríamos de realizar para a companhia e que também estivesse associado aos nossos propósitos pessoais. Sugeri abordar, de alguma forma, o tema mobilidade urbana que vinha ganhando importância na empresa, mas ainda era pouco compreendido internamente.

Naquela tarde de trabalho, reunimos um grupo que tinha afinidade com o assunto e esboçamos um projeto com o objetivo de estudar e melhorar a mobilidade da força de trabalho de uma das principais unidades industriais da BR.

A partir daí foram mais de dez reuniões. Mergulhamos a fundo no tema. Encontrei materiais consistentes como o guia Estratégias de Mobilidade Urbana para Organizações. Troquei e-mails com especialistas como Guillermo Petzhold, do WRI Brasil, e Vitor Mihessen, da Casa Fluminense. Descobri que empresas como Santander, IBM e o Grupo Abril haviam obtido resultados positivos ao investir na mobilidade dos seus funcionários. Construímos uma boa defesa e preparamos uma apresentação com números relevantes e recursos de storytelling. Ensaiamos e reensaiamos o nosso pitch. Enfim, conquistamos o apoio dos nossos gerentes e aprovação do orçamento.

Durante essa primeira fase, tivemos uma boa surpresa. Constatamos que todas as iniciativas de mobilidade corporativa levantadas estavam focadas em grandes centros urbanos. Entretanto não encontramos qualquer case em regiões periféricas e industriais, o que tornava nosso projeto inédito no Brasil.

A pesquisa sobre o ir e vir de mais de 3.000 trabalhadores da sede, na Cidade Nova, e da unidade industrial, em Duque de Caxias, foi realizada este ano. O questionário envolveu meios de transporte principais e complementares, tempo gasto, custo e aspectos de saúde. A partir dos resultados e do diagnóstico concluído recentemente, serão definidas ações para incentivar corporativamente o uso racional dos veículos motorizados e encorajar o uso de modais sustentáveis como caminhada, bicicleta e transporte público.

É claro que nem todas as empresas têm condições de desenvolver um trabalho dessa magnitude. Mas todas são capazes de criar medidas de mobilidade que tornem a experiência de chegada ao trabalho mais confortável, contribuindo para o bem-estar e a saúde dos empregados. E isso se converte em benefício para o próprio negócio, já que aumenta a produtividade e reduz o absenteísmo.

Além disso, promover deslocamentos mais eficientes e sustentáveis é uma forma das organizações compensarem a sociedade, assumindo a responsabilidade pelos impactos que causam sobre a região. De acordo com o WRI Brasil, 50% dos deslocamentos ocorrem por motivo de trabalho. Portanto a mobilidade urbana não pode ser responsabilidade somente da administração pública. A cooperação do setor corporativo é fundamental.

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