Impactos da mobilidade nas buscas por emprego

Foto de Ashley Gerlach no Unsplash

Era tudo que ela queria: há mais de um ano buscava uma oportunidade de transição de carreira. Assim que desligou o telefone, abriu o Google Maps e viu que a empresa ficava do outro lado da cidade, a pelo menos uma hora e meia de onde morava. Ela estava empregada e levava apenas 30 minutos até o trabalho, o que lhe permitia ir à academia antes do expediente. Ainda assim achou que valia a pena tentar aquela vaga. No dia da entrevista, saiu de casa com muita antecedência, mas, por pouco, não chegou atrasada. Foi uma viagem de quase duas horas em um ônibus lotado. Apenas uma linha atendia a região e não havia estações de trem ou metrô próximas. Teve ainda que fazer uma caminhada de poucas quadras, mas sem qualquer proteção contra o sol forte. A entrevista? A entrevista foi um sucesso! A recrutadora e o gestor ficaram encantados. Entretanto, naquela mesma noite, ela tomou sua decisão: não estava disposta a sacrificar tanto a sua qualidade de vida. Dois dias depois, quando recebeu uma nova ligação, ela recusou a oferta.

Histórias como esta não são raras. Você provavelmente já passou por algo parecido. Profissionais desistem de oportunidades de trabalho por conta dos inconvenientes associados às condições de mobilidade urbana. Até mesmo quem está desempregado analisa aspectos antes de se candidatar a uma vaga: tempo de deslocamento, conforto durante a viagem, segurança da localidade, tempo livre e qualidade de vida proporcionada.

Por isso, os responsáveis por recrutamento e seleção devem estar atentos a essas necessidades e preparados para informar as opções disponíveis para chegar ao local de trabalho, desde o anúncio da vaga até o momento da entrevista.

Há cerca de um ano, uma agência divulgou uma vaga no LinkedIn e um usuário comentou: “quem abre uma empresa em local dificílimo de chegar a pé?” De forma bastante simpática, a empresa respondeu que diversas linhas de ônibus passavam em um ponto a cinco minutos de caminhada do local.

Certa vez, ao finalizar uma entrevista, um candidato a estágio me perguntou se havia algum estacionamento na região. Apesar de haver uma estação de metrô logo ao lado, ele explicou que, da sua casa até ali, levaria cerca de 2 horas usando transporte público. Já de carro, esse trajeto seria de apenas 40 minutos. Isso tornaria sua jornada casa-estágio-faculdade muito menos cansativa.

O funcionário submetido ao estresse das longas viagens e da baixa qualidade dos transportes, mesmo quando está satisfeito no trabalho, tende a ser mais receptivo a novas oportunidades profissionais que lhe possibilitem deslocamentos menos desgastantes.

Diante disso, empresas que desejam contratar e reter talentos precisam estabelecer medidas de mobilidade corporativa, oferecendo soluções que facilitem o acesso dos seus colaboradores e que amenizem sua jornada.

Uma das medidas mais tradicionais é o serviço de transporte corporativo, geralmente disponibilizado por companhias que estão em regiões afastadas. Como exemplo, temos o CENPES – Centro de Pesquisas da Petrobras, situado na Ilha do Fundão, que oferece a seus empregados ônibus fretados para diversas regiões da cidade. Há também a Escola Sesc de Ensino Médio, localizada na Gardênia Azul, que possui vans para levar seus funcionários por cerca de seis quilômetros até o terminal da Alvorada na Barra da Tijuca, um ponto com maior oferta de transporte público.

Entretanto as organizações podem ir além e integrar múltiplas medidas: das políticas de estacionamento a implementação de bicicletários e vestiários, passando pelos regimes de home office. A definição adequada destas estratégias de mobilidade corporativa traz mais eficiência e conforto para os deslocamentos dos empregados e retorna como benefícios para a própria empresa. Colaboradores com mais tempo livre e equilíbrio entre vida pessoal e profissional são mais saudáveis, produtivos e possuem mais motivos para se manterem leais ao empregador.

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