O que me impressionou em minha primeira viagem no VLT

VLT circulando na Praça Mauá

Foi neste domingo, em meio a chuva, que o VLT – Veículo Leve sobre Trilhos – finalmente foi inaugurado. Como alguns sabem, sou uma entusiasta da mobilidade urbana. Mesmo sabendo que nossa cidade está mergulhada em problemas, fico muito feliz com as transformações que o Centro vem passando. E foi por isso que decidi ir à Praça Mauá para conferir o novo bonde.

Peguei um ônibus até a Candelária, de onde seguiria andando. Qualquer um que já visitou a região em um final de semana, sabe que não é muito seguro e que as ruas ficam desertas. Entretanto desta vez foi diferente. Havia agentes de trânsito e do VLT por todo o percurso, além de diversos carros da Polícia Militar e da Guarda Municipal, algo que gostaria de ver com frequência.

Mal cheguei na esquina da Presidente Vargas com a Rio Branco e já avistei os fotógrafos. Apesar do funcionamento estar marcado para iniciar ao meio-dia, o primeiro trem em direção a Cinelândia já deslizava pelos trilhos. Ainda eram onze e meia e presumi que aquela era a primeira volta exclusiva para políticos e convidados. Com um pequeno carro da Guarda Municipal abrindo caminho, o VLT cruzou a minha frente. À distância, parecia bastante lento e silencioso. De perto, bastante cheio, com balões amarelos e muito samba. Deixando de lado minha implicância com esta batucada, acredito que uma bossa nova combinaria muito mais com o sentimento nostálgico dos bondes do nosso Rio Antigo e com a tranquilidade da viagem.

Feita a minha crítica mental, segui em direção à parada dos Museus, nome dado à primeira estação da linha inaugurada, entre o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio – MAR. No caminho, passei por outra parada, a São Bento, sinalizada com um mapa das linhas e estações. O espaço de espera conta com bancos, cobertura e rampas para acessibilidade. Parte da estrutura é de vidro e eu desejo sinceramente que ela resista a vandalismos. Tenho apenas uma ressalva: infelizmente as rampas foram construídas com pedras portuguesas, o que dificulta o deslocamento de cadeirantes.

O ponto estava cheio quando surgiu um segundo trem, para alegria dos que ali aguardavam. Uma animação que logo virou frustração. A composição não parou. Provavelmente também estava destinada a convidados.

Chegando à Praça Mauá, cruzei com um pequeno grupo de manifestantes com cartazes e bandeiras vermelhas que estava deixando o local. Me deparei também com famílias e ciclistas que haviam ido conhecer o novo meio de transporte. Vi balões com a frase “Olho no VLT: atenção aos dois lados” na mão das pessoas e também nas barraquinhas de comida. De um lado idosos saudosos e crianças com suas expectativas. Do outro, manifestantes comentando que haviam “gastado o nosso dinheiro para comprar todas aquelas bolinhas”.

A fila para fazer o passeio era pequena, tendo em vista os chuviscos ocasionais. Porém, foi somente após a partida do primeiro trem aberto aos cidadãos, que liberaram o acesso para que as pessoas esperassem sob a cobertura.

Todos os que trabalhavam na Parada dos Museus estavam verdadeiramente empenhados e preocupados com a segurança de usuários e pedestres. Guardas e policiais se preocupavam em alertar a todos que o trem iria passar.

Depois de dar uma boa volta na Orla Conde, que é um passeio a parte, e nos arredores do Amanhã, resolvi entrar na fila. Fui uma das últimas a entrar no último bonde do dia. Os funcionários com coletes fluorescentes indicavam para seguirmos para os últimos vagões, que ainda tinham espaço, e ressaltavam que não era necessário correr.

Obviamente eu sabia que aquele era um programa-de-índio e que o VLT estaria cheio. Então, apesar de não estar lotado como nossos ônibus e metrôs em horário de rush, não posso falar muito sobre os bancos, as leitoras de bilhete-único e a existência de espaços reservados a cadeirantes. Todavia tenho muito a dizer sobre o que tornou aquela viagem uma experiência diferenciada em relação ao nosso transporte público.

Antes do bonde iniciar a viagem, um dos agentes ficava na porta, auxiliando a entrada das pessoas. Em um dado momento, ele pediu educadamente que liberassem a porta para que ele pudesse entrar com um carrinho de bebê. Apesar de alguns passageiros não considerarem aquela ideia muito boa, não é disso que se trata a verdadeira mobilidade urbana? Poder utilizar um transporte público sem dificuldades, mesmo quando se está empurrando um carrinho de bebê, carregando malas ou transitando com uma cadeira de rodas?

A partida foi dada e, para a minha surpresa, o tal rapaz de colete permaneceu no vagão e seguiu viagem posicionado próximo à porta. Muitos tentavam tirar suas dúvidas com ele, que buscava responder a todos com muita atenção, educação e uma linguagem impecável.

Tentei fazer uma pergunta, mesmo estando distante, mas logo veio a primeira parada. A porta que abriria ficava do lado oposto. Então o funcionário atravessou o vagão, saiu e ajudou cada passageiro a desembarcar com segurança. Algumas pessoas mostraram certo desespero para sair a tempo, mas não há necessidade de correria.

Ao retornar ao vagão, o agente se desculpou e pediu que eu repetisse minha pergunta, pois não tinha conseguido escutar. Então respondeu atenciosamente a todo o meu bombardeio, interrompendo vez ou outra para avisar a alguma senhora que havia chegado a sua estação de destino.

O rapaz chamado Ivo me explicou que a presença deles nos vagões será constante e não apenas neste início. São os agentes de estações, que acompanham os passageiros durante o percurso. Suponho que serão os responsáveis por fiscalizar a validação no bilhete único nas leitoras quando a cobrança começar a ser efetuada a partir de julho. Existem ainda os agentes de bordo, que dão apoio nas paradas de ônibus.

Apesar de alcançar até 50 Km/h, o VLT roda a uma velocidade bastante inferior, 15Km/h, em média. Então foi engraçado ver a festa dos passageiros quando o trem pegava um pouco mais de velocidade.

O Ministério Público tentou adiar a inauguração do novo meio de transporte, alegando que este não oferecia segurança suficiente. Não foi o que vi. Havia placas de sinalização por todo lado e constante orientação e alertas para evitar acidentes.

Posso dizer que o que mais me impressionou na viagem foi o profissionalismo com que o agente de estação atendeu os passageiros. Algo com que não estamos acostumados. Ele contou que passou por um treinamento de dois meses e que, diferente de muitas contratações priorizadas pela empresa, ele não mora nas redondezas e sim, na Baixada.  Achei admirável sua dedicação e o valor que dava a seu trabalho, algo importante especialmente em um momento em que temos tanto desemprego no país.

Gostaria muito que este tipo de treinamento fosse realizado com todos os motoristas de ônibus e táxis da cidade do Rio de Janeiro, cujas condutas são motivos de reclamações frequentes.

Chegada enfim a estação Cinelândia, parabenizei Ivo pelo seu excelente trabalho e lhe desejei muito sucesso. Ele é um exemplo de extrema educação, gentileza e preocupação com os passageiros que tornará a experiência de mobilidade do carioca algo realmente muito melhor.

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